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Curitiba, PR, Brazil
Sou Bailarina, Professora e Coreógrafa de Danças Árabes, DRT: 23023 Contatos: (41)8515-6226 Email: leareis@live.com

domingo, 3 de abril de 2011


Feminino Divino
Quando o feminino divino - a deusa - deixa de ser reverenciado, estruturas sociais e psíquicas tornam-se supermecanizadas, superpolitizadas e supermilitarizadas. O pensamento, o julgamento e a racionalidade tornam-se os fatores dominantes. Necessidades de relacionamento, afeto, carinho e respeito pela natureza permanecem negligenciadas. (...) Com o desprezo pela imagem arquetípica tão relacionada ao amor apaixonado (...) ficamos tristemente mutilados em nossa busca da integridade e da saúde" (Qualls-Corbett, Nancy, 2005).
Este feminino essencial, sufocado por séculos de domínio patriarcal, é resgatado através da dança do ventre. Possuindo origem ritualística (como a praticada nos templos sagrados), esta dança é caracterizada por seus movimentos de quadris sinuosos e vigorosos, que, segundo relatos históricos, mudaram pouco em sua essência em milhares de anos, embora tenham tornado-se mais refinados e sofreram influências de outras modalidades de dança ao longo do tempo. Desta forma, através da dança do ventre, a bailarina liberta o arquétipo da Deusa, ativando o feminino sagrado. Com isso, ela consegue ver o mundo e ela mesma sob uma ótica diferente. Fluidos criativos são estimulados, e as fronteiras do racional são transpassadas, fazendo com que a vida adquira um novo significado, de plenitude.
É muito comum percebermos nas alunas a paixão pela dança, o envolvimento físico e psíquico que toma conta de seus corpos e mentes, transformando-a em algo muito maior do que uma prática de exercícios físicos, ou momento lúdico. Muitos estudos já foram realizados nesta área, e os resultados apresentados são sempre os mesmos: a mulher percebe-se mais segura de si, mais bela e mais sensual depois de algum tempo de prática. Seu relacionamento consigo torna-se mais intenso, e consequentemente com o parceiro, ou com o grupo no qual está inserida. Como trabalha estruturas inconscientes muito profundas (o inconsciente coletivo) através da ativação do arquétipo da Deusa, a praticante sente-se invadida por sentimentos de alegria, amor, auto-realização, sensualidade - todos eles atributos da Deusa, que por séculos foram reprimidos. Jung denomina individuação o processo através do qual o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma ampliação da consciência. Esta seria a "meta" de desenvolvimento da psique. "Uso o termo 'individuação' no sentido do processo que gera um 'in-dividuum' psicológico, ou seja, uma unidade indivisível , um todo." (Jung, C. G. - Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, 2000). Eventuais resistências em permitir o desenrolar natural do processo de individuação são uma das causas do sofrimento e da doença psíquica, uma vez que o inconsciente tenta compensar a unilateralidade do indivíduo, gerando um desequilíbrio. A função feminina, tanto em homens quanto em mulheres, completa a individuação e é fundamental para que ela ocorra, sendo vital para nosso desenvolvimento psíquico. De acordo com a psicologia junguiana, é o feminino que inicia a complementação da consciência pelo contato restabelecedor com o inconsciente. Com a dança do ventre, há o resgate desta função (perdida através de séculos de patriarcado) e a mulher sente-se caminhando em direção à totalidade. Daí as sensações descritas como sendo tão maravilhosas pelas praticantes da dança. "(...) Esse lado ativo do feminino é semelhante àquela loucura divina da alma descrita em Fedro, de Platão, que evoca forças primitivas que nos levam além das limitações e convenções das normas sociais e da vida razoável. Neste sentido, Eros produz êxtase, a liberação das convenções de grupo... o êxtase pode variar, indo seu espectro desde um ser sendo momentaneamente levado para fora de si, até o profundo alargamento da personalidade" (Jung, C.G., The Colletcte Works) - ou seja, a INDIVIDUAÇÃO!!
Foto: 2007